ISTAMBUL : É À MORTE QUE BRINDAMOS



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A replicar o que sucedeu no ano passado, uma das surpresas cinematográficas deste vem (em parte) da Alemanha. Se em 2007 Das Leben der Anderen (A Vida dos Outros) me surpreende, este ano Fatih Akin fá-lo ao trazer-me Auf Der Anderen Seite (Do Outro Lado), filme que com o seu realizador compartilha, de entre outros, a nacionalidade que é a turco-alemã - tal pai tal filho. Útil esta deixa.
Ali Aksu: Pensionista. Turco. Viúvo. A residir na Alemanha. Foi às putas. Escolhe uma porque a quer em casa, há-de pagar-lhe o mesmo que o bordel. Yeter: 'Senhora de vida difícil' disse ela. Viúva turca. 'A minha filha? 27 anos. Pensa que trabalho numa loja de sapatos', disse ela. Ali tem um filho. Nejat: Apelido partilhado com o pai. Turco que dá aulas de alemão a universitários na Alemanha. Ali bebe, Ali enfarta, Ali vive, Ali volta, Ali fuma, Ali bebe, Ali bate, Ali mata. YETER TOD. A Turkish Airlines trata do transporte do corpo. Aliás, dos corpos, se bem que um vivo e um morto. Posso adiantar que os turcos têm cemitérios parecidos ao nossos. Istambul: 20 milhões de habitantes, "as ruas e os arquivos cheios de crianças curdas. Analfabetas que recorrem à violência" e um corpo vivo que, nas paredes da cidade por onde há-de ficar sem ainda no entanto o saber, espalha cartazes vivazes, amarelos, vistosos, com a cara de um corpo agora morto para lhe encontrar a ex-filha. Yaeten (pele de lua): membro de um grupo da resistência porque "na Turquia só pessoas com dinheiro conseguem educação". Foge para a Alemanha a procurar a ex-mãe, de quem ainda não conhece o prefixo de que vos informo. Não tem casa mas fome tem. Não tem dinheiro, mas tem Charlotte: estudante, alemã, loura como compete, comparsa de Yaeten. Complicações. Yaeten acaba presa e é deportada para a Turquia. Charlotte usa a Turkish Airlines para a ajudar e é aí que acaba. LOTTE TOD : "Isto é a Turquia": "as ruas e os arquivos cheios de crianças curdas. Analfabetas que recorrem à violência". Depois disto a mãe de Charlotte chega a Istambul para dar protagonismo a uma das mais bem conseguidas cenas do filme: um quarto em tons ocre e escarlate, cortinas e uma janela com vista sobre a cidade e uma noite escura; e há cortes com sucessivas transições em fade que lhe vão mudando os posicionamentos dentro do quarto mas não as emoções dentro de tórax - "É a pessoa mais triste da sala". Istambul, pra lá das cúpulas de Santa Sofia: (como) nunca te tinha visto. Há a repetição de cenas que reaproveitam o que antes descartaram (Memento?). Todos se cruzam. Ninguém se cruza. Todos se cruzam sem saber (Alice?). Istambul: brindamos à morte. Há música. Gatos. Cores e estendais. Livros. Mar. E há uma cena final, que tudo ou nada diz.
E é assim que se me abre o apetite para Head-On (2004), do mesmo realizador.

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