Huelga General.



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Neste vídeo, captado na Plaza de Santa Ana, em Madrid, Panoramix dança "Caperucita Roja" ao som da viola daquele que é - evidentemente - Marx, no decorrer de uma das festas de recepção à Huelga General, que é como quem diz - isso mesmo - "Greve Geral" de 29 de Setembro, aproveitando ainda para celebrar um IVA a uns espectaculares 18%.
Tudo aponta para que a greve tenha sido um absoluto fracasso. Não é preciso ser incrivelmente perspicaz para perceber isso; dada a quantidade de gente que passeava pelas ruas, que fazia compras, que vendia jornais, que se comia viva nos relvados depois de, tudo assim o indica, mais um dia de aulas.
É preciso ser ainda menos perspicaz para perceber que, espanhol que se preze, arranja sempre pretexto para regabofear. Nem que seja para celebrar muito bem, demasiado bem a chegada de uma manifestação convocada porque, afinal, está tudo mal. But, Who cares? Eu não.

No lo mires con recelo si te invita a merendar, 
anda, tontona, aprovecha y no te hagas más la estrecha..., 
¡ya lo decía Ronsard.

Da arte.



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Tio Carlos, tudo o que é castanho é arte? Daqui.

Acho artístico.



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I'm not the kind of feeling sorry for myself.
I stay home and I listen to the Belle and Sebastian.
Try to keep it simple as can be,
it works for them, should work for me.
(But what comes out is poor. And sometimes boring.) 
Mariana Ricardo

 
Mais do que de gente deprimida, gosto de gente que adora estar deprimida; e, mais do que adorar estar deprimida, adora mostrar ao mundo o quão deprimida está. Depois, num patamar mais elevado de adoração, a roçar o amor, gosto Bu-é, mas Bu-é do leite de canela e limão Hacendado.
Desgosto também particularmente do género de recanto cibernáutico (um blog, quiçá) que consiste em que se poste, insistente e - se possível - diariamente, pedaços puros de depressão, que, aparte estarem dactilografados - modernidade tantas vezes deixada ao desgoverno das mãos mais incautas, se apresentam do modo mais primitivo em que esta se pode exibir. Alguns exemplos: "Estou triste", "Estou perdido/a", "Não sei o que fazer da minha vida", "Foda-se", "Sinto-me cada vez pior", "Vou chorar". Deprimente. Ainda sou do tempo em que se deprimia na cama, em posição fetal; depois chegava a governanta do útero - a mãe, por assim dizer - e dizia: "CARALHO, outra vez a dormir?"; a seguir, para tornar tudo pior, ligava o aspirador. Uma situação que, transportada para a modernidade, ou melhor, para a Pós-Modernidade, equivale a estar-se absolutamente deprimido e, navegando pela web, dar de trombas com um excerto de Bernardo Soares, o Pai, a que não se resiste postar. Receio poder assim afirmar-se estarmos perante uma patologia bloguística, e fantasio com o dia em que, em cima de um palco, ostentando um t-shirt que diz "Fernandinho, vá ás putas, não me chateie" possa defender uma tese em que se estabelece uma relação de directa proporcionalidade entre a sintomática, exacerbada exibição de traços levianos de depressão e os níveis de pretensão à cena artística. Alguns exemplos de perturbações/patologias/situações patológicas altamente artísticas: a tal da depressão; bipolaridade, esquizofrenia, epilepsia daquela igual à do Ian Curtis, pulsos com atracção crónica por metais e objectivas, goela com atracção crónica por fármacos, ataques de pânico, claustrofobia, insónia, aquela doença em que crescem às pessoas tiras de fita-cola cruzadas sobre os lábios, anorexia da nervosa e, de um certo ponto de vista, a sífilis, muita em voga na cena artística parisiense do século XIX (ver rodapé do blog) é coisa para dar aso a umas cenas de performance corporal altamente artísticas. Se quiserem, sugiro-vos dois ou três sítios altamente artísticos a este nível em Lisboa, como o Viking, no Cais do Sodré, de onde, da última vez que lá estive, um amigo meu saiu com "Sida na boca", depois de um - digamos - belo "streep".
A minha profe da primária, que sempre foi uma grande vaca, ensinou-me que Nunca digas nunca. Apoiada na memória deste ensinamento e na crença - demasiadas vezes, evidência - de que Pode sempre ficar pior, não jurarei a pés juntos que este recanto jamais virá a padecer dessa patologia artístico-bloguística.
Se padecesse, postaria este vídeo, seguido do argumento:
Outros tipos de patologias bloguísticas: A minha.
Programar um vídeo e acabar com 30 linhas de chouriço enchido.

Pola Is Not Dead.



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"The Impossible Project"
de Bjorn Tagemose, Christoph Morlinghaus, Frederic Guelaff, Herve Plumet, Jan Van Endert, Julia Fullerton, Laurent Humbert , Louis Gaillard, Mathieu Bernard-Reymond, Michael Schnabel.
www.the-impossible-project.com

Santa Apolónia da Minha Escuridão.



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Senhores Passageiros

Alguns rapazes avançam mais depressa
para a morte, mas todos se debatem
com a vida que lhes resta. Às voltas
no cimento das cidades, entre
a estrangulada circulação dos veículos,
segredam ao ouvido de um deus
surdo: concede-me um novo amor
igual ao dos meus irmãos. Entretanto
são mais as raparigas que não lêem livros
no venenoso relento das estações
ferroviárias, chupam rebuçados
de menta com fel, suavemente inclinam
a cabeça para ouvir: senhores passageiros
vai dar início à sua marcha o comboio
com destino a Santa Apolónia da escuridão.

Rui Pires Cabral 
Longe da Aldeia 
Averno, 2005

"De nada servia ser a melhor na escola,
era preciso ser a melhor no mundo."



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Rambo, na sua ceira redonda, levantou a cabeça. Aquele uivo não lhe parecia de aflição, mas em questões desta natureza, era melhor indagar peritos em lascívia gritada. Brunilde sorria em sonhos, como se aquele som, que descia escadas e parava o vento, fosse música celeste, triunfante.
- Já fodem?, disse Rambo. Depois emendou a mão da língua. Os felídeos, especialmente aquela, são muito avessos a grosserias.
- Achas que estão a acasalar, Brunilde? A gata levantou-se, esticou-se, lambeu uma das patas que depois levou ao quase inexistente nariz e dignou-se ilustrá-lo com a sua milenar sabedoria das coisas da noite.
- Não ouviste o miado de cio satisfeito que ela largou, de estarrecer vales e ventos? Levam horas nos preliminares e depois são capazes de passar toda a vida, todas as estações, a comer-se vivos, noite e dia, até que a morte os separe. Acasalam para a vida, como patos elegantes e, se assim não for, matam-se vivos, de despeito e raiva. Não são gente compreensível, os humanos. Eu deixo-me comer à canzana, quando estou para aí virada. Mas há maneiras, tempos, períodos. Temos épocas. E se me levam as crias rafeiras, eu bufo por elas, mas dias depois nem me lembro. Eles não, estão sempre em cio, mais ou menos gravoso, porque metem a música e as estrelas de permeio.
Do andar de cima, ouviam-se agora os acordes jubilosos da Grosse Messe, Et incarnatus est. Rambo disse, Detesto música, embota o ouvido de um cão. És um rústico, disse Brunilde, um básico. Eles põem música para que os gritos que se seguem, gritos dela, berros dele, sejam ainda mais ferozes, para toda a vida. (...) E agora paramos a conversa, que toda a conversa de alma na boca é afrodisíaca, e ainda acabamos por parir um diabo da Tasmânia, que não é felídeo, nem canídeo, mas é o mais temível mamífero à face da criação. Desde que nasce morde na crica da mãe, morde nos irmãos, morde o óculo da câmara dos que o tentarem filmar. É incorruptível, preto e vermelho, mau como nenhuma cobra. E berra de raiva, noite e dia. Rambo era ingénuo.
- Tu achas que podíamos ter crias, Brunilde, tu e eu?
- Deus livre, respondeu Brunilde em crioulo. Uma aberração.

in Myra 
Maria Velho da Costa
Assírio & Alvim, 2008

Wind Up Wooden Heart, 2010 | Social Studies.



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Definitivamente, a minha área de estudos preferida. Esta.

Social Studies 
Wind Up Wooden Heart, 2010 
Label: Antenna Farm

Summer Lies.



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Tudo o que se diz no Verão é mentira. À noite, é ainda menos verdade.

Minha triste Puro-Sangue.



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Mulher cega mulher que não sabes reconhecer o amor se não te aparece sob a forma de catástrofe natural, se não te submete à sua força. Fala-me daquele que não quis dominar-te pisando-te, ao que não ocorreu disfarçar-se de Humphrey Bogart para divertir-se e ter-te nas suas mãos como tanto te teria agradado heroína de películas gastas de bofetadas giratórias investidas e apertados beijos arrancados Continuas enamorada do teu John Wayne latino? monumental macho cuspidor que caminha entre arrotos com enormes esporas nas botas para pontapear-te melhor minha triste puro-sangue. Lastimo-me. És uma lástima. Miriam Reyes

Recuerda que tú existes tan sólo en este libro.



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Lembra-te de que existes tão somente neste livro,
agradece a tua vida aos meus fantasmas,
à paixão que ponho em cada verso
por recordar o ar que respiras,
a roupa que pões e me tiras,
os táxis em que viajas cada noite,
sirene e coração dos taxistas,
os copos que partilhas pelos bares
com as gentes que vivem em balcões.
Lembra-te de que te espero do outro lado dos eléctricos quando chegas tarde,
que, sentinela incómodo, o telefone se converte num hóspede sem notícias,
que há um rumor vazio de elevadores, debatendo-se sozinhos,
que, enquanto telefonas, sobem ou descem a tua nostalgia.
Lembra-te de que o meu reino são as dúvidas desta cidade somente com pressa,
e que a liberdade, cisne terrível, não é a ave nocturna dos sonhos,
mas sim a cumplicidade, a manutenção da ferida pela espada
que nos faz conhecidos personagens literários:
mentiras de verdade,verdades de mentira.
Lembra-te de que eu existo porque existe este livro,
e que posso suicidar-nos com o rasgar de uma página.
Recuerda que tú existes tan sólo en este libro, agradece tu vida a mis fantasmas, a la pasión que pongo en cada verso por recordar el aire que respiras, la ropa que te pones y me quitas, los taxis en que viajas cada noche, sirena y corazón de los taxistas, las copas que compartes por los bares con las gentes que viven en sus barras. Recuerda que yo espero al otro lado de los tranvías cuando llegas tarde, que, centinela incómodo, el teléfono se convierte en un huésped sin noticias, que hay un rumor vacío de ascensores querellándose solos, convocando mientras suben o bajan tu nostalgia. Recuerda que mi reino son las dudas de esta ciudad con prisa solamente, y que la libertad, cisne terrible, no es el ave nocturna de los sueños, sí la complicidad, su mantenerse herida por el sable que nos hace sabemos personajes literarios, mentiras de verdad, verdades de mentira. Recuerda que yo existo porque existe este libro, que puedo suicidarnos con romper una página.

Luis García Montero 
numa tradução suja e feia do Cotonetes.
Para ouvir lido pelo autor aqui, e mais bonito ainda ao vivo. Foi.

Setembro.



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3º TOMO.
É verídico. Mudei de cidade.
Porque quem está mal, muda-se. Já dizia minha avó, que é uma grande ladina. Porque, sobretudo, me cansava pero no me encantava e se o encanto é a virtude sem a qual todas as restantes são inutéis - já dizia o versado do Stevenson - uma pessoa quer mais é fazer-se às nuvens, aos carris ou, na mais fatigante das hipóteses, à estrada, e vaguear, inspeccionar, perder-se, mirar, revolver, testar, e procurar muito por esse, como direi?, virtuosismo. Se possível, encontrar.
Ficam então avisados: estou aqui. Eu, sem o meu Stevenson, que afinal perdi no vazio da onda. É verídico. : Amo, sobretudo, imensas coisas e, em particular, a veracidade. E isto é puramente, como direi?, verídico.
You know.

Fins de Agosto.



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The summer that I broke my arm
I waited for your letter
I have no feeling for you now
Now that I know you better 
City With No Children
The Suburbs, 2010
The Arcade Fire

  
É verídico.
[ sobretudo, se de coração se diz braço.]

Meados de Agosto.



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Estava de verdade muito só naqueles dias de verão.
Á noite sentava-me à janela comigo,
desgrenhada, descalça, suada
à espera de um fresco amanhecer que não chegava nunca.
José Luís Garcia Martin 
Trípticos Espanhóis 
Relógio D´Água 1998

 É verídico.

Julho.



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Said your names in an empty room
Said your names in an empty room
Something I would never do (...)

You're burning out, you're black and gray
You're burning out, you're black and gray
Something I would never say
 Empty Room
The Suburbs, 2010
The Arcade Fire 

 



É verídico.

Setembro.



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2º TOMO. 
A Cidade
 
Dizes: vou partir
Para outras terras, para outros mares
Para uma cidade tão bela
Como esta nunca foi nem pode ser
Esta cidade onde a cada passo se aperta
O nó corredio: coração sepultado na tumba de um corpo,
Coração inútil, gasto, quanto tempo ainda
Será preciso ficar confinado entre as paredes
Das ruelas de um espírito banal?
Lawrence Durrell


É verídico.

Setembro.



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1º TOMO 


Intervalo

Sinto na véspera do meu anseio
a chuva que amanhã só choverá.
Chegou Setembro. Na terra
respiram os veios do renovo já.

Agarro uma alvorada desprendida
dos galhos desfolhados do passado.
Chove amanhã. O dia é hoje quase.
Cruzam o céu nuvens de enleios de asa.

A terra se molhará.
Também a esperança ficará molhada.
Eis o renovo. Amanhã choverá...
E as mãos ficarão limpas para tudo
(ou para nada).
António Salvado

  
É verídico.
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OS VOYEURS.